25/06/2024
Chegou o período do ano tão esperado no Maranhão: o das festas juninas. O São João do Maranhão e o artesanato possuem um vínculo forte. A Secretaria de Estado do Turismo (Setur-MA) está presente no Arraial do Ipem com o Espaço do Artesanato, onde a comercialização das peças não apenas enriquece a experiência dos turistas e visitantes, mas também gera uma importante fonte de renda extra para os artesãos locais.
“Durante o período junino, o governador Carlos Brandão e nós da Setur-MA temos a preocupação de oportunizar trabalho e renda para os artesãos por ter certeza que o ofício é fundamental para fortalecer o turismo, preservar as tradições do Maranhão e impulsionar a economia local. Reconhecemos a importância do trabalho dos artesãos e o impacto positivo que ele tem na comunidade”, declarou a secretária de Estado do Turismo, Socorro Araújo, que reforça o compromisso do governo com o desenvolvimento sustentável e a valorização da cultura.
Os artesãos maranhenses do Centro de Comercialização de Produtos Artesanais do Maranhão (Ceprama) que produzem as indumentárias do Bumba meu boi utilizam a tipologia dos materiais sintéticos, com a técnica do bordado e aplicação para criar peças únicas e cheias de significado. A combinação desses elementos resulta em trajes coloridos e ricos em detalhes que são obras de arte e refletem a identidade e a cultura maranhense.As indumentárias tradicionais, como chapéu, cocar e adornos para cabeça, são elementos essenciais nas festas juninas do Maranhão. Embelezam os participantes. Para o Mestre artesão Douglas, essas peças carregam consigo significados culturais e históricos profundos, representando a identidade e as tradições do povo maranhense.
“Tenho muito orgulho de fazer parte da área cultural e de ter herdado o talento dessa maravilhosa arte. Para mim, bordar e confeccionar indumentárias e couro do bumba meu boi significam contar, manter e divulgar uma das histórias mais ricas e folclóricas do Brasil. A história do bumba meu boi é a minha história”, expressou com muito orgulho por trás das peças que cria.A produção e venda dessas indumentárias não só preservam as práticas artesanais tradicionais, mas também valorizam a arte e a criatividade dos artesãos locais no São João Maranhense.
A artesã Andrelina Silva Neta compartilhou que considera esta a melhor época do ano para vender artesanato. “Durante este período, 70% da nossa renda vem do bordado, porque recebemos muitas encomendas de chapéus e participamos dos arraiais locais. Essa renda adicional tem sido uma ajuda para a minha família”.
Segundo o diretor do Ceprama, Jorge Beckman, a participação dos artesãos maranhenses e a comercialização das indumentárias, durante o período junino, são fundamentais.
“Além de contribuir para o fortalecimento da economia local e sustento das famílias dos artesãos, a produção das indumentárias e acessórios tradicionais do Bumba Meu Boi são elementos essenciais para preservar e promover a identidade cultural única do Maranhão”.Desde 2013, a maranhense Dayse Pinto representa a vaqueira de fita do Bumba meu Boi de Morros. “É uma emoção quando chegam as primeiras apresentações. Os artesãos que produzem nossas indumentárias nos entregam e ver os olhares de admiração das pessoas nos arraiais é incrível. Elas adoram o chapéu e as fitas e muitos pegam nas fitas durante as apresentações para sentir um pouco da energia do arraial”, compartilhou.
A maranhense Antonieta Oliveira, conhecida como MamãeOg, esteve no Arraial do Ipem, onde se encantou com um chapéu no Espaço do Artesanato da Setur-MA e expressou sua admiração pela peça, dizendo: "Me apaixonei por esse chapéu, coube certinho na minha cabeça e combinou com meu look".
Processo de criação do Artesão
Os artesãos maranhenses são verdadeiros mestres na utilização de matérias primas sintéticas e na técnica de bordado e aplicação. De acordo com registros do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), no Maranhão há 468 cadastros, sendo 341 femininos e 127 masculinos. Os profissionais do artesanato demonstram habilidade na criação de peças únicas, como colares e pulseiras indígenas ou de influência quilombola. Além disso, há 143 registros de artesãos que trabalham, exclusivamente, com a produção de chapéus e indumentárias, revelando a riqueza e diversidade cultural em cada detalhe do trabalho realizados.
Thyago Silva, um artesão do Ceprama, segue uma tradição familiar de bordados ligada aos bois. Desde jovem, ele cresceu observando sua irmã e seu pai bordando, aprendendo as técnicas e desenvolvendo uma paixão por esse trabalho artesanal. A família de Thiago não apenas se dedica aos bordados dos bois, mas também se envolve ativamente na cultura local, participando da dança em São Luís.A criação do passo-a-passo de um chapéu é um processo rico em detalhes e personalizado. Segundo o artesão Thyago Silva, a produção inicia-se com a testeira, que é desenhada por um artista e, posteriormente, bordada antes de ser integrada ao chapéu. “A partir daí, começo a construir o beiral, puxando a redinha e dando forma ao cocar, ornamentando toda a peça ao redor da testeira”, explicou.
O artesão fala sobre a inspiração ao criar chapéus, "Eu monto ele todo dia na minha cabeça, imagino o chapéu, faço com amor. Não pode ser de qualquer jeito, para poder criar uma harmonia de cores". Thyago Silva, explica que é essencial a conexão emocional e criativa para o resultado final ser único e especial.Os materiais utilizados para bordar os chapéus são canutilho e miçanga. "Meus chapéus remetem ao bordado antigo, feitos exclusivamente com canutilho e miçanga, sem a presença de paetês. Meus chapéus são inspirados nos vaqueiros campeadores e exigem um trabalho minucioso para serem ornamentados de acordo com as preferências de cada cliente".
De acordo com o artesão Thyago, as figuras mais populares dos bordados são: São João, São Pedro e, com destaque especial, São Jorge. Além disso, as figuras mais requisitadas em termos de imagens, cores e símbolos são as relacionadas ao Flamengo e Sampaio.
Thyago é casado há 12 anos com a artesã Andrelina Silva Neta, que aprendeu o ofício com ele. “Observando meu esposo bordar chapéus, ornamentar bois e fazer roupas típicas, despertei interesse por essa arte e pedi para que me ensinasse. Desde então, tenho aprimorado minhas técnicas de bordado dia após dia”, explicou a artesã Andrelina Neta.
“Os chapéus de palha decorados, as indumentárias coloridas e os acessórios típicos do São João são muito procurados pelos moradores locais e pelos visitantes que desejam vivenciar a tradição junina maranhense”, disse a artesã.
Herança Cultural
O Ceprama também conta com a presença do Mestre artesão Douglas Jesus Castro Lopes, conhecido como mestre Douglas, natural de Apicum-Açu, e reconhecido pela habilidade em representar a cultura popular maranhense, através de indumentárias de festas juninas feitas com miçangas e canutilhos. Além de bordados, ele segue o legado do pai na confecção de embarcações.Mestre Douglas aprendeu com o pai a arte de fazer bois e barcos, combinando habilidades manuais com criatividade. Sua jornada para se estabelecer como artesão foi marcada por desafios, mas a persistência o levou ao reconhecimento no Ceprama em 1992, quando entrou. Um marco de qualidade para o artesanato maranhense.
Para o Mestre artesão Douglas, as peças carregam consigo características culturais e históricas profundas, simbolizando a identidade e as tradições do povo maranhense. “Tenho muito orgulho de fazer parte da área cultural e ter herdado está maravilhosa arte, o bumba meu boi. Para mim, bordar e confeccionar o couro do boi significa contar, manter e divulgar a mais rica de todas as histórias do bumba meu boi. Folguedo, que está em quase todos os estados do Brasil com diferentes modos de se apresentar, mas que no Maranhão tem seu estilo próprio, inconfundível”, contou o Mestre artesão.Além disso, o carro-chefe de Mestre Douglas é a fabricação do boi de mesa de 30 cm, fornecendo artesanato não só para o Maranhão, mas também para outros estados. “Passo o ano inteiro trabalhando sem parar com uma agenda constante. Meu maior cliente é o maranhense, seja o pagador de promessas, crianças, donos de terreiros, escolas, empresas, donos de bois, agências de turismo e colecionadores adeptos da arte. Eles me encontram na internet, pelo site da Rede Artesol, Instagram e vídeos no Youtube, onde tenho mais de 40 mil visualizações”, explica.Mestre Douglas também compartilha seu conhecimento com a comunidade, ensinando a arte do bordado e preservando e promovendo assim a tradição local e expressões culturais.
Texto: Geísa Batista
Fotos: Geísa Batista e arquivos pessoais dos artesãos
Massa!" Texto bem interessante e esclarecedor. Parabéns Geísa
ResponderExcluirMarcos Quadros