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terça-feira, 23 de outubro de 2018

TRÊS ASSASSINATOS EM TRÊS DIAS: CAMPO REVIVE ESCALADA DE VIOLÊNCIA

Aluisio Sampaio, um sindicalista conhecido como Alenquer, líder da ocupação camponesa dos sem-terra “KM Mil”, foi assassinado em 11 de outubro. (Foto de Thais Borges).
Um líder camponês e dois indígenas, que já haviam sofrido ameaças, foram mortos no interior do Pará, Maranhão e Mato Grosso

Em apenas três dias, três assassinatos violentos ocorreram no interior do país – todos relacionados à disputa por terras. Das vítimas, duas eram indígenas e uma delas liderava um assentamento de sem-terra no Pará. Dois deles já tinham sofrido ameaças de madeireiros ou de grileiros de terras.

O líder do movimento dos sem-terra, Aluisio Sampaio, conhecido como Alenquer, foi assassinado na última quinta-feira, 11 de outubro, em sua casa em Castelo de Sonhos, município de Altamira (Pará). Localizada ao lado da rodovia BR-163, que liga o Mato Grosso ao Pará, sua casa também funcionava como a sede do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar.

Um dia antes, em 10 de outubro, foi a vez do indígena Erivelton Tenharin, atingido em um tiroteio na sede da Funai, em Colniza (Mato Grosso). A suspeita é que ele tenha sido vítima de um esquema arquitetado por madeireiros, segundo nota da Associação do Povo Indígena Tenharin do Igarapé Preto. A terceira vítima também lutava contra a presença de madeireiros no território indígena. Trata-se de Davi Mulato Gavião, assassinado no dia 12 de outubro, em Amarante do Maranhão.

A Polícia Civil está investigando o assassinato de Gavião, mas ainda não se manifestou sobre suspeitos. O Ministério Público Federal e a Polícia Federal também abriram investigação para tentar encontrar o responsável pela morte de Tenharim.

No caso de Alenquer, dois suspeitos foram detidos pelo roubo de terras e pelo assassinato, segundo Thiago Mendes Sousa, superintendente da polícia civil de Itaituba (PA). Sousa também informou que as polícias civil e militar realizaram uma operação conjunta, deslocando-se até uma fazenda, onde foram recebidos a balas, para prender Marcio Siqueira e seu irmão Vando Siqueira. O primeiro foi baleado e morreu no local, o segundo conseguiu fugir mata adentro.

Foram presos Julio Cesar Dal Magro, conhecido como Julio da Guara, proprietário da empresa Guara Agroservicos, em Novo Progresso (PA), o homem que supostamente está por trás do assassinato e João Paulo Ferrari, motorista dos supostos assassinos.

Segundo o superintendente, a polícia emitiu mais dois mandados de prisão para membros de uma gangue criminosa que “invadiu terras e matou pessoas de bem”, mas os nomes são mantidos em sigilo para não atrapalhar seu cumprimento. O objetivo do ataque-surpresa, comentou, era “pôr um fim a esses crimes e impedir a grilagem de terras que está ocorrendo ao longo da BR-163”. A investigação do assassinato está em andamento.

Desde 2004, conhecíamos Alenquer e, no final de 2016, voltamos a entrevistá-lo para uma reportagem para Mongabay, sobre a violência que eclodia em Castelo de Sonhos e Novo Progresso, à medida em que a pressão do agronegócio aumentava sobre aquela região da Amazônia.

Os preços das terras estavam disparando conforme as facilidades legais permitiam a grileiros se apropriarem de vastas áreas de floresta. Após desmatadas, seu preço cresce ainda mais e são vendidas para pecuaristas. Foi a região mais violenta que visitamos na bacia do Tapajós e onde os grileiros causavam os maiores danos ambientais; a região tem uma das maiores taxas de desmatamento da Amazônia.

Quando falamos com Alenquer pela segunda vez, ele usava um colete à prova de balas que recebeu depois de ser registrado em um programa de proteção do governo. Mas não tinha muito o que ele pudesse fazer para se salvar desse último ataque fatal: foi atingido com oito tiros na cabeça.

Por: Sue Branford e Maurício Torres
Fonte: Mongabay/ Repórter Brasil

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