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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

São Luís: Risco de raiva cresce em São Luís com cães soltos nas ruasCentro de Controle de Zoonoses em crise também faz aumentar a possibilidade de contágio


Com o Centro de Controle de Zoonoses- CCZ de São Luís sucateado e sendo acusado de maus-tratos a animais, o monitoramento de cães abandonados e o controle de doenças, como a raiva canina, passam por uma fase de perigosa ineficiência na capital maranhense. O Maranhão, que passou quase 15 anos sem nenhum óbito por raiva canina, agora ocupa o primeiro lugar no ranking brasileiro, com 54 casos na região metropolitana, contabilizados até outubro, e dois óbitos. No ano passado, segundo dados do Ministério da Saúde, dos 70 casos de raiva animal registrados no Brasil, 58 foram no Maranhão. As duas mortes por raiva canina ocorridas este ano vitimaram Maria Gerlândia Marins, de 36 anos, que morava na Vila Embratel (área Itaqui-Bacanga), e Luís Carlos Araújo Barbosa, 23, morador do Tibirizinho.

O coordenador do Centro de Controle de Zoonoses do município de São Luís, José Antonio Veloso, admitiu 'deficiências' no CCZ e classificou o atual momento de 'preocupante'. 'Nós temos atualmente uns 15 mil animais, entre cães e gatos, soltos nas ruas da capital, os quais, com certeza, não foram imunizados. Muitos podem estar sendo hospedeiros da raiva. Este ano, mais de 143 mil animais foram vacinados, e apesar de todos os esforços que fazemos para tentar controlar a situação, em meio a tantas deficiências, estamos vivendo um momento preocupante', declarou Veloso.

A médica veterinária e atual responsável pela Divisão de Raiva do CCZ, Luz Marina Xavier, alertou que, caso uma pessoa seja mordida por um animal com a raiva, o caso deve ser informado imediatamente ao CCZ. Na sequência, a pessoa deve procurar atendimento médico.

Luz Marina informou que animais comprovadamente com raiva devem ser sacrificados, e justificou o procedimento do CCZ de depositar as carcaças no Aterro da Ribeira – um dos fatos que serão apurados pela Delegacia do Meio Ambiente, após as denúncias da ONG Bicho Feliz – pelo fato de não haver crematório de animais em São Luís.

'Ao chegar ao local em que houve o incidente fazemos o controle do foco por meio de uma vistoria e de aplicação da vacina em todos os animais que estiverem em um raio de 5 km. O animal agressor será levado para o CCZ, onde será analisado. Caso seja constatada a raiva, o animal será sacrificado por meio da eutanásia. Como em São Luís não há crematório de animais, as carcaças são depositadas no aterro sanitário da Ribeira, em um local reservado a elas', afirmou Luz Marina.

O médico veterinário Alberto da Silva Carneiro, secretário estadual adjunto de Vigilância em Saúde, explicou que a raiva é uma zoonose que ainda preocupa a Organização Mundial de Saúde (OMS), devido a seu alto grau de letalidade.

'A primeira medida que deve ser adotada por todos os municípios maranhenses, como estratégia principal para o combate à raiva, é a imunização em massa, com a implantação de postos de vacinação de rotina para cães e gatos. Para essa ação, o Estado, por meio do Ministério da Saúde, disponibiliza todos os insumos necessários, além de treinamento e aporte financeiro', informou Alberto Carneiro.

Para veterinário, calazar e leptospirose também preocupam

O presidente Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa), Renan Nascimento de Moraes, disse ao JP que a entidade – que agrega mais de 100 clínicas – tem como principal função conscientizar a população mais carente sobre os cuidados necessários com animais domésticos, como cães e gatos, e sobre como se precaver das doenças transmitidas por eles.

Segundo Renan, as doenças mais comuns transmitidas por cães e gatos são a raiva, o calazar (leishmaniose visceral) e a leptospirose.

'Nas áreas onde existem os 'bolsões' de pobreza, o índice de calazar é ascendente, e cresce junto com a população local, por conta das condições de vida insalubres. Com o período chuvoso, a leptospirose também se destaca, uma vez que temos um saneamento básico precário em São Luís e os esgotos transbordam, fazendo a doença proliferar', disse Renan.

O veterinário afirmou que os animais podem ter raiva e os donos nem saberem.

'Em outubro, recebi um cão em minha clínica que tinha a doença. Ao detectarmos, tive que sacrificar o animal, e por conta disso quase fui processado pela dona do cachorro, que não quis aceitar a comprovação dos fatos por meio de exames', contou o veterinário.

'O trabalho de nossa entidade, a Anclivepa, é disseminar informação nas comunidades e até mesmo prestar atendimento gratuito às pessoas menos favorecidas. Estamos elaborando um projeto para apresentar ao novo prefeito de São Luís, no qual nos propusemos a dar suporte à Secretaria de Saúde, com pontos estratégicos espalhados pelos bairros, onde seriam realizadas triagens para detectar o problema do animal para só depois encaminhá-lo ao atendimento final e específico. Os pontos funcionariam como espécies de UPAs, para tentar cobrir as deficiências que o poder público tem deixado', relatou Renan.

O presidente da Anclivepa frisou que o estado de emergência em que o Maranhão está se deve à falta de políticas públicas e à ausência do amparo necessário dos governos estadual e municipal para com a área de zoonoses.

Renan acha que o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de São Luís, apesar de ter excelentes profissionais, treinados e capacitados para a função, está abandonado, sucateado e sem condições de atender à população da capital.

'O Estado também nada faz para colaborar, já que deveria implantar centros pelo interior do Maranhão, dividindo assim a responsabilidade com os municípios. Os profissionais igualmente são desvalorizados e esquecidos pelo poder público, que paga um salário vergonhoso de R$ 1.200 para um médico veterinário, que tem de cumprir uma carga horária de seis horas por dia, expondo-se aos riscos inerentes à atividade'.

Centro de Controle de Zoonoses será vistoriado

O presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Maranhão, Osvaldo Serra, afirmou que será aberto um processo ético disciplinar contra os profissionais que podem estar envolvidos ou que tenham conivência com as denúncias de maus-tratos a animais no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de São Luís. O local também será vistoriado, nos próximos dias. O Ministério Público, por meio da Promotoria do Meio Ambiente, participará dessa fiscalização. As denúncias foram feitas pela médica sanitarista Diana Almeida, da ONG (organização não governamental) Bicho Feliz.

Osvaldo Serra condenou, além dos maus-tratos, a eutanásia (sacrifício) feita nos animais, segundo ele, de forma desumana, e o descarte dos animais.

'A eutanásia, que deve ser realizada apenas no caso de o animal ter uma doença que não pode ser tratada, tem de ser precedida pela aplicação de um anestésico geral, antes da injeção da droga letal. O animal deve estar totalmente anestesiado e inconsciente, para que não tenha nenhum tipo de angústia, de sofrimento', disse Serra.

Quanto ao descarte dos animais mortos – que, segundo imagens feitas pela ONG Bicho Feliz, são depositados no Aterro da Ribeira ou num lixão perto da Universidade Estadual do Maranhão, onde funciona o CCZ –, Osvaldo Serra afirmou que essa é 'uma questão muito grave'.

'Todos nós sabemos que não se pode jogar carcaças de animais em qualquer lugar. O destino adequado da carcaça também deve ser uma preocupação do médico veterinário que realiza o sacrifício', disse Serra.

A denúncia contra o CCZ é fundamentada em imagens gravadas na última quarta-feira (28) dentro da unidade de saúde animal, pela ONG Bicho Feliz, que mostram como são tratados os animais doentes: sem comida, sem água e num ambiente insalubre.

'É um ambiente fora de todas as normas sanitárias. Fezes, urina, animais sujos e sem alimento, sem assistência. Encontrei animais que estavam há cinco dias no 'corredor da morte', esperando para serem sacrificados', relatou Diana Almeida, autora da denúncia.

A eutanásia é permitida nos centros de controle de zoonoses, desde que os animais ofereçam risco à saúde pública. Geralmente, são sacrificados cães portadores de doenças irreversíveis como a leishmaniose visceral, a raiva e a sinomose. Mas é preciso ter critério na hora de decretar a eutanásia. O acompanhamento de um médico veterinário é fundamental. Assim prevê a legislação, que condena a ação aleatória, indiscriminada.

'Atualmente, a prática é feita por funcionários da limpeza, que não têm nenhuma qualificação técnica, e não têm conhecimento', contou Diana Almeida (Fonte:  JP).

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