Procuradores explicam termo firmado com mineradoras envolvidas na tragédia de Mariana. (fonte: G1.com) |
O Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC) com Samarco, Vale, BHP, ministérios públicos e governos estaduais
de Minas Gerais e do Espírito Santo assinado nesta segunda-feira (25) mantém
suspensa a ação civil pública de R$ 155 bilhões contra as empresas por até dois
anos.
As mineradoras Samarco, Vale,
BHP Billiton, ministérios públicos e governos de Minas Gerais e do Espírito
Santo assinaram, nesta segunda-feira (25), um Termo de Ajustamento de Conduta
(TAC) para alterar o Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC), sobre
reparações após o desastre de Mariana. O novo documento, chamado de TAC
Governança, prevê maior participação dos atingidos na tragédia nas decisões
referentes aos danos causados pelo rompimento da Barragem de Fundão, em
novembro de 2015.
De acordo com o coordenador da
força-tarefa do Ministério Público Federal em Minas Gerais, o procurador José
Adércio Leite Sampaio, este acordo "praticamente" extingue a ação
civil pública de R$ 20 bilhões contra as mineradoras e suspende, por até dois
anos, a outra ação civil pública, de R$ 155 bilhões. Esta última ação está
suspensa na Justiça desde março de 2017.
A entrega do TAC chegou a ser
adiada por quatro vezes e o prazo vencia nesta segunda-feira (25). Caso não
fosse novamente prorrogada nem entregue, a ação do MPF no valor de R$ 155
bilhões poderia voltar a tramitar.
O TAC, assinado nesta
segunda-feira (25), estabelece como cada parte envolvida no desastre de
Mariana, sejam as empresas, os órgãos públicos ou os atingidos, poderá atuar em
decisões e mapeamento de danos causados.
“Queremos criar efetividade
dos [42] programas porque nós temos hoje, depois de dois anos e meio, uma ineficácia
ainda muito grande dos programas. E nós acreditamos que isso será resolvido com
duas coisas: a primeira delas é com engajamento e envolvimento dos atingidos e
a segunda delas é com uma produção de laudos independentes, que nos propicie
tomar decisões para repactuação dos programas de maneira convincente e
fundamentada”, afirmou o procurador.
O procurador-geral do
Ministério Público de Minas Gerais, Antônio Sérgio Tonet, disse que o acordo
tem como um dos objetivos evitar uma série de eventuais ações judiciais
desnecessárias, já que envolve todas as partes.
Segundo Tonet, o acordo ainda
vai sistematizar todo o trabalho que estava sendo feito de forma isolada,
fazendo com que ele fique mais consistente em favor dos atingidos e do meio
ambiente.
A 12ª Vara da Justiça Federal
em Minas Gerais confirmou o recebimento do acordo. Agora, o documento será
avaliado pelo juiz federal Mário de Paula Franco Júnior, que vai decidir se
homologa ou não. Isto deve acontecer nas próximas semanas.
Maior participação dos
atingidos
Entre os pontos destacados no
acordo, segundo o MPF, está a participação de representantes dos atingidos no
Comitê Interfederativo (CIF) e na Fundação Renova, entidade criada pelas
mineradoras para cuidar da reparação dos danos. Esta fundação também terá a
governança alterada pelo TAC.
Na nova configuração do
comitê, os atingidos vão participar em diversas instâncias decisórias e
consultivas. Serão criadas comissões locais, câmaras regionais e um fórum de
observadores e o direito de poder contar com o apoio de assessorias técnicas.
Três representantes dos
atingidos ou técnicos indicados por eles vão compor o comitê, que tem a função
de orientar e validar os atos da Fundação Renova, além de um técnico indicado
pela Defensoria Pública. Com isto, o CIF passa de 12 para 16 integrantes,
segundo a mineradora BHP Billiton.
De acordo com o promotor do
MPMG, André Prado, os atingidos sentiram ao longo do tempo que a Renova
apresentava soluções para eles de cima para baixo.
Para Prado, a única forma de
fazer a reparação integral é ouvindo os atingidos. Por isso, foram constituídas
as assessorias técnicas, que são equipes multidisciplinares que vão ajudar a
levantar os danos. Todos os 39 municípios atingidos terão direito a ter
assessoria técnica, se desejarem.
Segundo ele, as assessorias
técnicas serão escolhidas por comissões de atingidos. Juntos, eles formaram
câmaras regionais de negociação. Prado ressalta que o acordo visa mudar a
lógica que vem sendo adotada para que as soluções partam do território e não
dos gabinetes.
Segundo o procurador José
Adércio Sampaio, este é um acordo intermediário. Segundo ele, esse processo
deverá durar até dois anos.
“A nossa ideia é, tendo os
atingidos a assessoria técnica devida, tendo nós os laudos técnicos que nos
deem segurança para tomar as decisões, nós iremos ou poderemos repactuar os
programas que constam do TTAC e aí criar um acordo muito mais amplo e muito
mais importante, no sentido que envolverá todas as instituições que hoje estão
participando do processo”, disse.
A Fundação Renova afirmou que
“o envolvimento dos atingidos, das organizações civis, da academia, do poder
público e dos especialistas é um pilar central na forma de a Fundação Renova
encontrar e implementar as soluções que integram os 42 programas de sua
plataforma”. Para o presidente da fundação, Roberto Waack, o poder de voto dos
atingidos é um “avanço”.
A Samarco disse que este
acordo reafirmou o compromisso da empresa com as comunidades e locais
impactados pelo rompimento de Fundão.
Para a Vale, o “acordo representa um passo importante para a solução dos desafios resultantes do rompimento da barragem de Fundão, sobretudo por incrementar as bases de participação das pessoas atingidas nas instâncias de governança da Fundação Renova”.
Governança da Fundação Renova
A governança da Fundação
Renova também foi alterada. O conselho de curadores, que atualmente é formado
por sete conselheiros, passa a ter nove cadeiras, sendo seis indicadas pelas
empresas, uma ocupada por representante do Comitê Interfederativo e duas por
indicados dos atingidos.
O conselho consultivo, que
também faz parte do trabalho da Renova, passa a contar com sete pessoas
atingidas ou representantes por eles indicados, dois representantes de organizações
não-governamentais, três de instituições acadêmicas e dois de entidades
atuantes na área de direitos humanos. (Fonte: G1)
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