Entre bilros e belezas naturais, Raposa, um dos quatro municípios que integram a Grande Ilha de São Luís, celebra sua tradição e revela o talento das mulheres que bordam a história do Maranhão. Nesta quarta-feira, 17 de dezembro, é comemorado o Dia Municipal das Rendeiras de Raposa, marca cultural da cidade que virou patrimônio e orgulho do Maranhão.
A poucos quilômetros da capital maranhense, a cidade encanta com suas belezas naturais, culinária marcante e o som dos bilros que, há quase oito décadas, transformam fios em arte.
O acesso à Raposa é fácil: são cerca de 28 quilômetros pela MA-203, em um trajeto de aproximadamente 40 minutos de carro. Logo na chegada, a brisa litorânea e o colorido das rendas no tradicional Corredor das Rendeiras recebem os visitantes com o melhor do artesanato local.
Mais que um simples ofício, a renda de bilro é símbolo de identidade, sustento e história de Raposa. Nas mãos das artesãs, o “toc-toc” dos bilros se transforma em música, e cada ponto bordado carrega séculos de tradição, transmitida de mãe para filha.
As peças, roupas, toalhas, sousplats, caminhos de mesa e adornos, refletem não apenas delicadeza, mas também a força e a resistência das mulheres que mantêm viva essa herança cultural maranhense.
Esse legado ganhou novo fôlego nos últimos anos com o reconhecimento oficial do Governo do Estado. Em 2024, foram sancionadas duas leis históricas: a Lei nº 12.262/2024, que declara Raposa como a Terra do Artesanato Renda de Bilro; e a Lei nº 12.242/2024, que eleva a renda de bilro à condição de Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Maranhão.
A secretária de Estado do Turismo, Socorro Araújo, destaca que esse apoio institucional vem se traduzindo em oportunidades reais. “Apoiar os profissionais do artesanato e as rendeiras é uma prioridade. Garantimos a participação em feiras e eventos nacionais, ampliando a comercialização dos produtos e conquistando novos mercados. Esse apoio é fundamental para que a renda de bilro continue viva, gerando renda e fortalecendo a nossa cultura”, afirma.
Autonomia financeira e tradição
A história das rendeiras se entrelaça com a criação da Associação das Rendeiras da Praia de Raposa, fundada em 1980 por um grupo de mulheres que decidiu enfrentar os atravessadores e comercializar diretamente suas produções. Atualmente, cerca de 50 mulheres produzem diariamente no espaço, garantindo sustento, autonomia e a continuidade da tradição.
“Eu costumo dizer que a vida gera renda. Quando termino uma peça e vejo a satisfação do cliente, sinto que todo o esforço valeu a pena. A associação nasceu da coragem de mulheres que não aceitaram a desvalorização e permanece viva até hoje, como prova da nossa força e união”, afirma Marilene Marques, presidente da Associação das Rendeiras de Raposa e filha de uma das pioneiras do movimento.
O Centro de Comercialização de Produtos Artesanais do Maranhão (Ceprama) também se tornou uma vitrine importante para as peças da Raposa. No local, o visitante pode encontrar e adquirir, de segunda a sexta-feira, peças originais das rendeiras, valorizando o trabalho manual e levando um pouco da cultura maranhense para casa.
“O Ceprama abriu portas para que nossas peças cheguem a um público maior e valorizem ainda mais a nossa arte. Com a ajuda do Estado, temos a oportunidade de participar de feiras como a Fenearte e o Salão do Artesanato, que nos permitem conquistar novos mercados e mostrar o valor da renda de bilro do Maranhão”, destaca a artesã e permissionária Maria Celeste.
Essa valorização tem trazido resultados expressivos. Em 2025, a participação das rendeiras em grandes eventos, como o 19º Salão do Artesanato em São Paulo e a 25ª Fenearte, em Pernambuco, resultou na comercialização de 477 peças e na geração de R$ 42.328,00 em negócios, beneficiando diretamente 33 artesãs e outras 26 pessoas de suas famílias e comunidades.
Para a coordenadora estadual do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), Liliane Castro, “as rendeiras da Raposa não são apenas guardiãs de uma técnica artesanal: são artistas, profissionais e símbolos de resistência cultural. Com o apoio das políticas públicas e o reconhecimento da sociedade, a renda de bilro segue firme, perpetuando uma tradição que é, acima de tudo, patrimônio e orgulho do Maranhão”.
Raposa: natureza, cultura e tradição à beira-mar
Além do artesanato, Raposa encanta com suas paisagens paradisíacas. O município é conhecido pelas chamadas “fronhas maranhenses”, formações de dunas e lagoas que lembram os Lençóis Maranhenses, mas em escala menor.
Os passeios para essa região saem diariamente da praia de Raposa, com embarcações que partem geralmente entre 8h e 9h da manhã e retornam no fim da tarde. As lanchas e catamarãs podem ser contratados na própria orla, e o trajeto dura em média uma hora, com paradas para banho, fotos e degustação de petiscos típicos.
O visitante pode também saborear a culinária local, com destaques para o peixe frito, a torta de camarão e o famoso arroz de cuxá, servidos à beira-mar. Assim, visitar Raposa é viver uma experiência completa: apreciar a natureza, saborear a gastronomia maranhense e levar na bagagem uma peça artesanal que carrega história, identidade e amor.
Mais que um souvenir, a renda de bilro da Raposa é símbolo da força feminina, da cultura popular e da arte que fazem do Maranhão um estado de tradições vivas e beleza singular.
Texto e fotos: Geíza Batistta


Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para o bom andamento deste trabalho, faça sua observação e sugestão. Sinta-se a vontade para comentar. Obrigada!